quinta-feira, 9 de março de 2017

A Escola e a Sociedade e A Criança e o Currículo


SUGESTÃO DE LEITURA:
A Escola e a Sociedade e A Criança e o Currículo

Hercília Maria Fernandes
Universidade Federal de Campina Grande
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

O livro "A Escola e a Sociedade e A Criança e o Currículo" corresponde a uma edição portuguesa de 2 (duas) obras do filósofo e educador norte-americano John Dewey (1859-1952): The School and Society (1900) e The Child and the Curriculum (1902). Publicado pela Relógio D’Água Editores (Lisboa, 2002), o livro está organizado em três partes; conforme exposição abaixo:

ÍNDICE:
Lista de ilustrações, 9
A ESCOLA E A SOCIEDADE
Nota do autor, 13
Nota do Autor à Segunda Edição, 15
   I. A Escola e o Progresso Social, 17
   II. A Escola e a Vida da Criança, 37
   III. O Desperdício na Educação, 59
   IV. A Psicologia da Educação Elementar, 83
   V. Os Princípios da Educação de Froebel, 101
   VI. A Psicologia das Ocupações, 115
   VII. O Desenvolvimento da Atenção, 121
   VIII. O Objectivo da História na Educação Elementar, 131
PÓS-ESCRITO: TRÊS ANOS DE ESCOLA ELEMENTAR UNIVERSITÁRIA, 139
A CRIANÇA E O CURRÍCULO, 155

Segundo explanação dos editores, a obra apresenta, “[...] de modo sucinto, a inovadora filosofia da educação de John Dewey enquanto processo experimental e centrado na criança”. Assim sendo, em A Escola e a Sociedade e A Criança e o Currículo, estudantes e educadores poderão dialogar com os conceitos deweyanos de “interesse”, “esforço”, "experiência", "inteligência", "educação" e "sociedade"; ampliando, dessa forma, a reflexão acerca da “vida” da criança na escola e do seu natural instinto de atividade e experimentação, de modo a conferir às ações escolares um sentido mais amplo de formação humana e de educação formal como prática de democracia.
Para tal feito, faz-se necessária (ainda hoje?...) a edificação de uma revolução copernicana na educação, capaz de realizar “uma transferência do centro de gravidade”. Nas palavras de John Dewey (2002, p. 40-41, grifos do autor):

Eu talvez tenha exagerado um pouco, por forma a salientar bem os aspectos típicos da velha educação: o seu incentivo à passividade, a sua massificação mecânica das crianças, a sua uniformidade de programas e métodos de estudo. Aquilo que a caracteriza pode ser resumido se dissermos que o seu centro de gravidade é exterior à criança. Situa-se no professor, no manual, em qualquer parte e em toda a parte excepto nos instintos e nas atividades imediatas da própria criança. Quando assim é, pouco há a dizer sobre a vida da criança. Muito haveria a dizer sobre os estudos da criança, mas a escola não é um local onde ela viva. A mudança que tem vindo a ser introduzida na educação é uma transferência de centro de gravidade. É uma mudança, uma revolução, não muito diferente da que Copérnico iniciou ao transferir o centro astronômico da Terra para o Sol. No caso em análise, a criança converte-se no Sol em volta do qual gravitam os instrumentos da educação; ela é o centro em torno do qual estes se organizam.

E, prossegue...

Se tomarmos o exemplo dum lar ideal, onde o pai é suficientemente inteligente para reconhecer o que é melhor para a criança e tem possibilidade de proporcionar-lho, veremos que a criança aprende através do intercambio social no seio da estrutura familiar. [...] Pois bem, se organizarmos e generalizarmos tudo isto, teremos a escola ideal. Não há nisto mistério algum, nem se trata duma maravilhosa descoberta das teorias pedagógicas ou educativas. É apenas uma questão de fazer sistematicamente e duma forma ampla, inteligente e competente aquilo que, por várias razões, na maioria dos lares só pode ser feito duma maneira comparativamente mais pobre e ocasional. A criança deve contactar com um maior número de adultos e de crianças, para que a sua vida social seja o mais livre e rica possível. [...] Nesta escola, a vida da criança transforma-se no objectivo dominante. Todos os meios necessários para favorecer o seu desenvolvimento se centram aqui. Aprender? Certamente, mas antes de mais viver, e aprender através e em interacção com esta vivência. Quando a vida da criança passa a ser centrada e organizada deste modo, deixamos de vê-la acima de tudo como um ente que ouve; a nossa perspectiva inverte-se radicalmente.

No Brasil, as problematizações e conceitualizações propostas por John Dewey em torno da funcionalidade da escola, do sujeito que aprende e do quê, onde, como, quando e para quê aprende, mediante as transformações em curso nas estruturas da sociedade brasileira no século XX, foram amplamente refletidas e difundidas pelo filósofo e educador Anísio Spínola Teixeira; assim como por tantos outros intelectuais e educadores da chamada Nova Educação ou Escola Nova, ou, ainda, Escola Ativa. Entre os diversos defensores dessa nova educação, destaca-se o nome da professora, escritora e formadora de educadores infantis “Heloísa Marinho”. A autora, não escondendo a orientação deweyana de “educação pela e para a vida”, expandira os conceitos e os princípios educativos defendidos pelo filósofo em fecunda produção bibliográfica de natureza pedagógica, em que se destaca o livro Vida e educação no Jardim de Infância.
Os livros de Heloísa Marinho, assim como a vasta obra do professor Anísio Teixeira, colaboraram para edificar uma “tradição pedagógica” centrada na criança e em seu natural e social desenvolvimento; contribuindo para materializar uma forma escolar e um modo escolar (específico) de socialização da infância nas instituições educativas, que, aparentemente, resistem à ação do tempo. Mesmo um século após grande circulação da filosofia sócio educacional deweyana ainda é possível reconhecer as marcas fundadoras dessa nova pedagogia. O que demonstra, em grande medida, a atualidade do pensamento de John Dewey, e, de modo particular, a importância de leitura e reflexão das obras A Escola e a Sociedade e A Criança e o Currículo.


Referências:
DEWEY, John. A escola e a sociedade. A criança e o currículo. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2002.
MARINHO, Heloísa. Vida e educação no jardim de infância. Programa de Atividades. 3. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1967.


 *Para adquirir o livro: Livraria Cultura


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