lilás são os
meus dentes e lábios e pernas e unhas.
minados. olhos.
o meu exército,
william, é de violetas.
Nina Rizzi,
in Pra o fim
da melodia, orquestras reais.
Neste sábado,
17 de março, a poetisa Nina Rizzi
lançará a obra Tambores pra N’Zinga,
publicada pela Editora Multifoco, em evento a se realizar na cidade de
Fortaleza, no Sobrado Doutor José Lourenço, a partir das 15horas.
A trajetória
de Nina Rizzi, igualmente atriz e historiadora, no cenário artístico
contemporâneo não se furta a conhecer. Idealizadora e autora do/no blog Hellenismos, a sua arte poética, além de
expandir-se em ambientes virtuais, já integrara duas antologias constituídas por
autorias femininas: Dedo
de moça (Terracota Editora: 2009) e Maria Clara: uniVersos femininos (LivroPronto: 2010).
Porém, é em Tambores pra N’Zinga, livro apresentado pelo poeta Lau Siqueira e por mim prefaciado, que Nina Rizzi marca, indistintamente, a sua
estreia no quadro atual da poesia contemporânea. Na obra, por meio de três capítulos,
Nina Rizzi se lança a um projeto individual e, simultaneamente, de memória
coletiva que, sob diversos “quandos”, alcança-lhe as retinas. Seduzindo-a para
um “tudos”, nos termos benjaminianos, saturado de agoras e, com essa atitude, à
rememoração dos “quases” da história.
No livro, a poetisa sugere-nos várias
correspondências entre linguagens. Leva-nos a uma experiência “viva” com as
artes, tendo em vista que “os perfumes, as cores e os sons”, segundo acepção de
Charles Baudelaire, “se correspondem”. Nesse sentido, como quem “urra pelos
cantos um gozo literário” e faz “um museu de tudo” (Rizzi, 2012), a poesia de
Nina propõe-nos a totalidade de nossas experiências sensíveis por meio de
intertextualidades com cenas e imagens pictóricas, artistas, historiadores, músicos e gêneros musicais,
combinando as temáticas em desenvolvimento às especificidades das linguagens.
E ao sugerir-nos, em versos, essas articulações,
a poetisa restaura a condição de autor enquanto sujeito de historicidade. Especialmente
por trazer, ao presente, uma multiplicidade de fragmentos, de ecos e
ressonâncias de outros tempos, espaços e memórias, cujos antecedentes se configuram
“do mediterrâneo à áfrica central, o novo mundo” (Rizzi, 2012).
Assim, uma das qualidades que se observa
presente em Tambores pra N’Zinga condiz
à representação da imagem da autora nos poemas. Representação, ou invenção de si, que se configura
desde o texto que confere título à obra aos poemas que compõem os capítulos.
Sobretudo quando a remete a autodefinir-se “bucólica”, “melancólica”, “erótica”,
“pornográfica” e, assim como a Rainha N’Zinga do Ndongo e de Matamba, do
sudoeste da África, cujo livro homenageia e rememora, “senhora e soberana, deusa,
cataclismo, umbigada”.
Isso “tudos” porque a razão é helênica,
filosófica, dialética, mas o coração vibra, dança e combate em concordância com
os tambores de uma guerreira africana. Muito embora as armas de sua luta se
constituam “apolíneas”, representam tonalidades claras, rosadas e suavemente
melancólicas, ou, no dizer da autora, “buendías”, que corporificam, em uma
mesma expressão artística, um “exército de violetas” (Fernandes, in Prefácio).
*
Breve explanação inspirada nos horizontes de leitura contemplados na escrita de
Prefácio do livro Tambores pra N’Zinga.