A poetisa Adriana Karnal realizou a sua estréia poética no “Maria Clara: simplesmente poesia”, nesta última quinta-feira, 20 de agosto de 2009. Em sua postagem de estréia, Adriana apresenta um “mini-conto” que narra belas paisagens humano-oníricas, materializadas em uma linguagem lírica e musical.
Adriana Karnal, - cujo sobrenome não é meramente artístico, consiste herança familiar - reside na cidade de São Leopoldo-RS. É professora universitária com mestrado em Linguística Aplicada e Especialização em Língua Inglesa. Autora de livros didáticos com publicações no mercado editorial e tradutora nas “horas vagas”, como costuma poetizar. Na Web, a poetisa expande a sua voz poética no espaço que leva o seu nome: Adriana Karnal-Poemas e participa do blog coletivo de literatura Manufatura, projeto coordenado por Larissa Marques.
A voz de Adriana Karnal se expande por meio de uma simplicidade encantadoramente “enganadora”. Sua poesia não se materializa a partir de rebuscamentos de linguagem ou uso exagerado de neologismos. A simplicidade na linguagem, no entanto, revela uma enorme sensibilidade expressiva.
Suas escritas demonstram cuidado na escolha e trato com as palavras, e apontam para a intensidade emotivo-conceitual da autora que, através da sugestão de signos, desvia o curso usual das palavras para compor novos arvoredos e paisagens poéticas. Tais considerações podem ser vislumbradas em o poema Sem pé nem cabeça, onde as palavras se transfiguram, sugerem combinações e sentidos para alcançar o clímax da expressividade:
Um quarto, deitado...
tem poesia.
O colchão, não.
A terra da geada fresca,
a chuva que cai, a noite, o luar.
Até o arado tem poesia,
mas, a vaca... não.
O mar, imensidão,
a pele, textura fina.
A piscina?
Eu me pergunto:
Em que pé dá poesia?
(in: Adriana Karnal-Poemas)
Assim, além da riqueza expressiva na voz de Adriana Karnal, convém destacar a sinceridade com que a autora externaliza a sua visão de mundo e sentimentos experimentados durante o voo poético; que expõem, a alma nua, as percepções e convicções mais íntimas.
Isso tudo em meio a figuras de linguagem, de pensamento e sonoridade, donde se destaca o manuseio equilibrado de aliterações que atribuem movimento e ludicidade aos versos; de assonâncias que conferem harmonia e musicalidade; de sinestesias que produzem efeitos e sensações corpóreas no ser do leitor; e antíteses que aproximam sentidos denotativamente opostos - dentre outras figuras não menos expressivas.
Passemos para mais três poemas de Adriana Karnal, onde a poetisa transporta o leitor a um universo puramente lírico através de um dizer metalinguístico:
indecente
Pura pretensão.
Poeta é Adélia, Líria, Clarice.
Poucas verdadeiras o são.
dente amarelado do palavreado
do palavrão
e palavrinha...
Desmedida na linguagem.
(Poeta sabe falar sacanagem)
elegante
Quisera eu ser poeta
e ter meu livro na estante
by Adriana Karnal
O fio da faca
e todo o frio que faça
não me desatinam.
Tenho a chama dos loucos e a
brasa sob os pés.
Tu não me descansas.
Insisto em ser solarínea.
by Adriana Karnal
Entre meus riscos
e rabiscos
A caligrafia e
a garatuja
Há o dilema da poeta:
A folha em branco.
Vestida de noiva pronta
para casar-se com as
palavras.
by Adriana Karnal
**Me custa [muitíssimo] escrever mediante as novas regras propostas no Acordo Ortográfico, por isso mantenho a grafia, ainda em uso corrente, de algumas palavras.
***Imagem: Clio, Euterpe e Tália. Pintura de Eustache le Seur, 1652-1655, Paris, Museu do Louvre.