sábado, 25 de outubro de 2008

Relato da Defesa: CECÍLIA MEIRELES E A LÍRICA PEDAGÓGICA EM “CRIANÇA MEU AMOR” (1924)

Presumo que muitos leitores do Novidades & Velharias já passaram por uma situação de apresentação de um trabalho científico e podem imaginar tão grande é o entusiasmo e, simultaneamente, a apreensão. Da mesma forma, os estudantes que se encontram em meio a um processo de construção científica podem vislumbrar como é peculiar a emoção que reveste a véspera da exposição do estudo e, respectivamente, a ansiedade, já que o trabalho passará por um crivo analítico de uma Banca Examinadora que efetuará um parecer acadêmico.

A emoção e a ansiedade fazem parte desse processo, posto que a escrita acadêmica não se constrói em alguns poucos dias e horas, mas resulta de um longo caminho de “buscas e inquietações”, parafraseando Libâneo. Para se realizar uma pesquisa e materializá-la em escrita científica fazem-se necessários entusiasmos, sacrifícios e, sobretudo, determinação. A emoção e a ansiedade também resultam da carga afetiva que o autor atribui à sua pesquisa, considerando que, além de um pensar racionalmente elaborado e sistemático, um texto científico também provém das convicções e relações que o pesquisador mantém com o objeto de estudo e com os nexos que se podem inferir.

Após quase três anos de estudos e dedicação à pesquisa no Mestrado em Educação, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, chegou-me finalmente o momento de defender a Dissertação intitulada “Cecília Meireles e a Lírica Pedagógica em Criança meu amor (1924)”; junto a uma Banca Examinadora composta por catedráticos que são, cientificamente, autoridades reconhecíveis na pesquisa em História da Educação.

Os dias que antecederam a defesa foram lentos. Cada dia, fragmento de hora foram vivenciados com muita intensidade, tendo em vista que precisei realizar uma síntese crítica do trabalho a fim de preparar os pontos da explanação, bem como desenvolver um olhar criterioso sobre as prováveis limitações e fragilidades da pesquisa. Assim, como detalhista que sou - talvez até por demais chegada às miudezas... -, preparei errata, imagens para slides e convites, argumentos teóricos e discursivos, etc., para defender os pontos de vista do meu trabalho sobre as intencionalidades pedagógicas e funcionalidades sociais expressas na ação pedagógica não-formal de Cecília Meireles na Literatura Infantil.

Chega, então, o dia 17 de outubro de 2008 e, com ele, todas as sensações e apreensões possíveis e tangíveis. Muitas atividades foram desenvolvidas na manhã do 17 de outubro: revisão do material da apresentação, preparo dos itens para o coffee break, compra de flores, etc., tudo isso com o auxílio de minha mãe Maria Inês, da irmã Tânia e da sobrinha Thaíze. E, quando finalmente chega a tarde e, com ela, o momento da defesa, meu coração parecia que saltaria pela boca a qualquer instante...

Mas, passemos, leitor, para algumas passagens inesquecíveis do evento.

A apresentação do trabalho se realizou no auditório do NEPSA (UFRN / Natal-RN), um espaço estética e cientificamente apropriado para conferências, palestras e defesas de trabalhos. Pontualmente às 15h00, o Prof. Dr. Antônio Basílio Novaes Thomaz de Menezes, orientador de minha pesquisa, deu abertura à solenidade, apresentando aos presentes convidados o motivo da reunião, isto é, a defesa de minha Dissertação de Mestrado, e as professoras que compuseram a Banca Examinadora: Profª Drª Margarida de Souza Neves (PUC-Rio) e Profª Drª Marta Maria de Araújo (UFRN).

Após as considerações introdutórias, o professor Antônio Basílio convidou-me para iniciar a apresentação do trabalho. Dirigi-me então ao púlpito e iniciei a exposição, apresentando os principais aspectos de minha pesquisa: título da dissertação, objeto de estudo, dificuldades localizadas na pesquisa, problemáticas, estruturação dos capítulos e algumas conclusões. No tocante à estrutura da dissertação, procurei me centrar nos principais pontos das partes que compõem o texto dissertativo, conforme se podem ler nas imagens abaixo, utilizadas durante a apresentação:

Posso dizer que a minha exposição fora breve e tanto quanto tensa. Como disse anteriormente, a sensação que eu tinha é que o coração saltaria... Porém, procurei deixar as emoções não me dominarem, afinal a apreensão é mesmo um fenômeno compreensível, considerando a natureza do acontecimento!...

Logo após a minha fala, os trabalhos da mesa foram iniciados e a Historiadora Margarida Neves fora convidada a proferir a sua análise. Porém, a professora gentilmente cedeu a primeira ordem de exposição à professora Marta Maria de Araújo que vivenciava, na ocasião, dificuldades relacionadas à saúde de sua mãe.

A análise da professora Marta Araújo teve um início emocionante, já que a dissertação associa a obra Criança meu amor aos valores ideológico-educacionais construídos, no Brasil, em torno dos mitos da maternidade, e a sua mãe lhe presenteara, durante a infância, com este livro de Cecília Meireles. Entretanto, sua avaliação fora questionadora, consistente e bastante criteriosa, onde fizera significativas reflexões relacionadas à estrutura da dissertação, à abordagem, à metodologia e a algumas categorias analíticas. Sem sombra de dúvida suas considerações foram bastante pertinentes para o melhoramento da dissertação, e, na ocasião, pude responder algumas das questões, por ela, apresentadas.

A exposição da professora Margarida Neves fora emblemática. A pesquisadora da PUC-Rio fizera relevantes análises sobre a pesquisa historiográfica, apresentando as dificuldades do pesquisador em compreender o binômio “processo-produto”; a dificuldade de lidar com a “temporalidade”, sobretudo com a dialética continuidade/descontinuidade; e a adoção de um referencial teórico-metodológico não-extremista, capaz de investigar o objeto e condensar conclusões considerando todos os ângulos da problemática. Ademais, a historiadora realizou significativas considerações biobibliográficas sobre Cecília Meireles e a sua vasta participação na educação brasileira; onde questionou, inclusive, algumas das contextualizações e inferências realizadas na dissertação.

Além das reflexões e análises críticas, as pesquisadoras destacaram também as qualidades do estudo dissertativo, apresentando as contribuições do trabalho para a atualização da pesquisa sobre Cecília Meireles e a sua ação pedagógica na literatura infantil brasileira.

Depois das exposições das professoras examinadoras, o professor Antônio Basílio fez as suas considerações sobre a construção da dissertação, fazendo alguns comentários que muito me emocionaram e aos participantes. Em sua fala, ele expressa as suas convicções sobre o processo de pesquisa e o relacionamento orientador-orientando, acenando que sua concepção de formação humana é de encaminhar os sujeitos à autonomia, por isso a sua atuação, como orientador, é de um mediador que auxilia o orientando na compreensão e articulação de idéias, fontes, meios...

A partir daí não pude mais conter as emoções, particularmente quando o professor Antônio Basílio, humildemente, argumenta que se o trabalho apresenta fragilidades, elas se devem as suas próprias convicções acerca de como deve se realizar o trabalho de orientação; e se apresenta qualidades, elas se devem ao mérito de sua orientanda que fora obstinada em sua dedicação à pesquisa.

Seguidas as considerações do professor-orientador, eu e os demais participantes fomos convidados a nos retirar do auditório para que a Banca pudesse formular o seu Parecer. Depois de alguns minutos de espera, o professor nos convida para adentrar novamente no recinto. Antes da leitura do documento, o professor Antônio Basílio comenta que o resultado muito lhe agradou e inicia a leitura. Segundo o Parecer, o trabalho de pesquisa “Cecília Meireles e a Lírica Pedagógica em Criança meu amor (1924)” apresentara consistência teórica, um tema original, contribuições à pesquisa sobre Cecília Meireles e a educação, tendo sido aprovado com o conceito “A” e indicado para publicação mediante revisões sugeridas pela Banca Examinadora.

Conforme as análises feitas pelos professores no curso da Defesa, eu, sinceramente, não esperava por este conceito; e até comentei, durante os instantes de espera, com algumas colegas do Programa de Pós-Graduação que provavelmente o trabalho receberia um “B”. Porém, para minha felicidade, a pesquisa fora apreciada pela Banca Examinadora.

Após a apresentação do Parecer, perguntei ao professor se poderia efetuar algumas palavras finais, o que me fora permitido. Agradeci aos professores, aos colaboradores da pesquisa, aos familiares, amigos e colegas presentes e destaquei a atuação de minha mãe - a quem dedico o trabalho de pesquisa - junto ao meu processo de formação humana e intelectual.

Encerrada a solenidade de Defesa, nos deslocamos para outro ambiente a fim de degustar o coffee break composto a base de doces, queijos e biscoitos caseiros confeccionados, em sua maioria, na micro-empresa familiar de meus pais intitulada “Doce Seridó”, cuja doceira responsável é a minha mãe Maria Inês Fernandes. No café, a minha mãe foi a estrela que iluminou a tarde. Trocou muitas palavras com os professores e demais convidados, recebendo vários elogios relativos às suas iguarias culinárias e também extensivos à minha pesquisa.

Essas foram algumas das muitas passagens vivenciadas durante a Defesa de meu trabalho dissertativo, espero que o conteúdo desta narrativa possa servir aos que se encontram construindo um trabalho acadêmico e/ou estão prestes a defendê-lo.

Termino a explicitação dos fatos expondo algumas fotos retiradas pelo Mestrando em Educação Pablo Spinelli, que ilustram esse momento marco em minha formação científica, sócio-humana e profissional. E aproveito a ocasião, novamente, para agradecer a vasta contribuição teórica oferecida pelo professor-orientador de minha pesquisa e pelas professoras examinadoras:

- Recebam os meus sinceros e afetuosos agradecimentos.


Foto 1: Pablo Spinelli, Hercília Fernandes, Antônio Basílio, Jane Caroline.

Foto 2: Marta Araújo, Hercília Fernandes, Antônio Basílio, Margarida Neves.


Foto 3: Hercília Fernandes expondo o trabalho.

Foto 4: Banca Examinadora: Marta Araújo, Antônio Basílio e Margarida Neves.


Foto 5: Banca Examinadora emitindo o Parecer.

Foto 6: Auditório.