O Novidades & Velharias receberá, brevemente, para uma conversa informal, in “café literário”, o poeta português Vieira Calado; autor, já então, popularizado, na Europa, com vários livros publicados; dentre eles: 37 poemas (1961); Os sinais da Terra (1962); O frio dos dias (1986); Poemetos (2004) e, em prosa, MerdocK: um cão em Faro (2004). Atualmente, o autor difunde a obra Arabescos, seu recente trabalho poético.
No café literário, o poeta será convidado a explicitar, aos leitores brasileiros, dados de sua biografia e bibliografia e, sobretudo, as tendências e preferências existentes em sua produção literária.
Vieira Calado dispõe de um blog de poesia amplamente visitado na Internet - “Poesia de Vieira Calado” (http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/) -, de onde extraímos alguns de seus poemas para composição desta seleta. A linguagem de Vieira transita nas linhas da natureza e da simplicidade e, sua poesia, enriquece-se pela exposição sinceridade dos sentimentos do poeta, formando belos sentidos paisagísticos ao deleite do leitor. Passemos para alguns de seus textos:
A minha vida é o que eu penso que é a minha vida,
um golpe de vento o que eu penso ser um golpe de vento.
Vejo no vaivém das ondas apenas a ligeireza das ondas,
a mesma sensualidade das areias que arrastam o vento
e por ele se deixam arrastar numa profunda comunhão
como a água que cai sobre as águas, sem angústia.
E nunca me arrependo de olhar o azul, fazer um gesto
de vigiar o céu, à procura duma estrela imperturbável
apenas a dizer que está ali, longe, contemplando a terra.
(In: http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/2007/10/minha-vida.html)
É esta certeza que o tempo intercepta
– grave rumor do salgueiro ao vento
vento rumor próprio do tempo.
É esta certeza que o rio desenha
na água o vidro....no fundo a sombra
sombra da sombra que se faz na água.
É esta certeza que o vento impele
na água a folha ....no fio do tempo
tempo do tempo que o rio engendra.
É esta certeza que o rumor acende
e deixa no ar redemoinhos
círculos de vento que o vento leva.
(In: http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/2008/02/poema-quela-certeza.html)
Esta indolência do ar,
o calor ainda húmido da terra
aberta a um olhar fecundo
que apodrece o pântano do sol
em imagem de poeiras imprecisas
pairando à luz do dia
como um tímido cristal
reflectindo a luz na brisa -
águas breves
caindo sobre a fronte
escorrendo
para o interior dos olhos indolentes
de quem conhece a terra
coberta pelo sol.
(In: http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/2008/05/poema-ao-sol.html)
Poema àquele amor
O meu amor é uma bola de sabão-macaco
um caco
um cacto
um encanto
que eu canto
nas mãos do tacto.
(In: http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/2008/01/poema-quele-amor.html)
** Imagem: "O Gigante" / Lagos-Algarve / Portugal.