sábado, 1 de março de 2008

Crônica: Gentileza Gera Gentileza


Gentileza Gera Gentileza[1]

Por Hercília Fernandes

Vive-se uma época de retrocesso à barbárie. As bandeiras e os instrumentos de guerra, no entanto, já não são os velhos e encardidos panos, nem as espadas grotescas e as armaduras enferrujadas sobre/sob cavalos altivos. Aprimoram-se os discursos, inventaram idéias, falsearam a realidade, visto que “apagaram tudo e pintaram tudo de cinza[2]”...
A palavra, outrora dita para esclarecer os homens, tornou-se objeto de dominação, exercício de poder e de saber. O amor, sentimento humano maior, tornou-se objeto de riso, siso, fabulação...
E, nesse grande palco da “modernidade”, anjos rebeldes são postos ao fogo, crianças e idosos jogados às próprias sortes. Mulheres violentadas, silenciadas e mutiladas em seus desígnios. Homens morrem a cada dia e mortos-vivos enfeitam cenários; e, autômatos, enredam cenas reais nessa grande comédia da vida moderna.
O palco não é mais o “bem perdido”, o locus amoenus redentor - élan capaz de oferecer luz às idéias. O palco, composto por “flores de cimento”, não configura mais a natureza idílica gritante, mas as pedras cuidadosamente emparelhadas, ornamentalmente bem elaboradas...
Compõem-se as cores da cidade: os tons opacos, nublados, acinzentados; mãos e sinais fechados, olhos empoeirados... Cenário rude, pobre, nefasto. Nesse teatro mortificado surge então o fogo e, com ele, a devassidão, a claridade e a normalização... Entretanto, não é o fogo o temível vilão! Não é o fogo o terrível atroz da multidão!...
O fogo deixa seus rastros pela cidade e, com as nuvens de fumaça, vem acordar a criatura humana da sua rudeza e automatização. Nesse palco de desolação, um homem se levanta e grita à multidão: o MAL reside no coração!
Um homem - um homem "com a sua dor estampada na cara" - entra em cena nesse “circo” de horrores. Nele, Ele recolhe os doentes, expande sonhos, alimenta crianças, velhos, “lobos” e “dementes”... Um homem com a sua dor, com a dor escancarada na longa barba, grita: só existe um caminho, o caminho é o do amor!...
Mas, as pessoas estão por demais ocupadas para receberem o pão na farta mesa. Seus corações, presos no cimento e no vazio, ignoram “palavras de Gentileza”; e, não percebem quantas cores podem existir no mundo, na natureza; E, recusam-se à frase: “Gentileza Gera Gentileza”!
E, mesmo com a sua tamanha e gentil Gentileza, o circo continua pegando fogo e as pessoas que, “apressadas passam pela cidade”, caminham silenciadas por intermináveis círculos de escuridão, posto que: “[...] a palavra no muro fora coberta de tinta"...
O homem, com a sua dor, é afastado da cega e homogênea multidão, tiram-lhes a mobilidade do estandarte e os instrumentos de luta; tiram-lhes, da palavra, a trindade redentora: o “amorrr”. Amor composto pelo “R” do Pai, “R” do Filho e “R” do Espírito Santo. E o circo novamente invade a escola, e a escola rouba a vida e o tom cinza pinta negritudes nos corações.
Porém, a “gentileza que Gentileza gera” se eterniza e, em meio às flores de cimento, o profeta - louco, poeta, criança - indaga os mortos-vivos e deixa o questionamento como herança:
- “Qual o mais importante: o livro ou a sabedoria?”.
Eis, aí, a gentileza na sofia do Messias!




  • Descrição: Marisa Monte, através da música "Gentileza" pertinente ao Cd “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, difunde os ensinamentos espirituais do Profeta Gentileza. Partindo dos princípios de Gentileza, a cantora reflete: “Amor palavra que liberta, já dizia o Profeta”!


Notas:

[1] Texto escrito com base na vida e missão espiritual abraçada pelo Profeta urbano Gentileza - José Datrino (1917-1996) - na cidade do Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a história do Messias Urbano consulte o site Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Datrino e os textos de Leonardo Boff sobre o espírito do profeta Gentileza. Artigos disponíveis em: http://www.leonardoboff.com/site/vista/2004/abril30.htm e http://leonardoboff.com/site/vista/2004/maio07.htm.

[2] Gentileza In: Cd “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor” (Marisa Monte).


Um comentário:

  1. Maravilha de texto!!!! Parabéns, Hercília. Conheci o Profeta Gentileza. Louco? Não creio, talvez perturbado pelo circo e pelhos horrores.Me sinto abençoada por existir no mundo comtemporâneo, pessoas como ele, e como você que o revive, e reanima seus gestos e hábitos no vídeo.

    Muito belo
    Parabéns!
    Mirze

    ResponderExcluir